Daisy, Durval e Dr Jaime - foto: MC

O Sindserv Santo André lançou nesta sexta-feira (19) a campanha “Cuidar de quem cuida é cuidar da cidade inteira”, que busca conscientizar sobre o combate ao adoecimento dos servidores no local de trabalho e destacar a importância da valorização desses trabalhadores, essenciais nas áreas da Saúde, Educação, Guarda, Trânsito, Meio Ambiente e demais setores de atendimento público à população.

O evento, que faz parte do Setembro Amarelo aconteceu na sede do Sindicato, reuniu professoras, professores e profissionais da Educação da rede, integrantes do RSUE e das Comissões organizadas pela entidade, além da diretoria colegiada e de base do Sindserv.

O representante legal do Sindicato, Durval Ludovico, abriu a atividade ao lado da diretora financeira, professora Daisy Dias, e do Dr. Jaime, psiquiatra da rede.

“As doenças emocionais e psicológicas, como estresse, depressão e síndrome de burnout, têm se tornado realidade para muitos servidores. São enfermidades invisíveis, mas que causam grande impacto no trabalho diário, gerando absenteísmo, afastamentos prolongados e, em muitos casos, incapacidade temporária ou permanente para o exercício das funções”, destacou Ludovico.

Ele também lembrou que esses problemas afetam diretamente a sociedade: “A escassez de trabalhadores adoecidos sobrecarrega os que permanecem no serviço. Quem fica, assume uma carga ainda maior, o que não só prejudica a qualidade do atendimento, mas também reforça um ciclo de adoecimento. Isso impacta a saúde do servidor e a capacidade do poder público em oferecer serviços de qualidade à população. Cuidar da saúde mental e emocional dos servidores é garantir um bom funcionamento da cidade”, frisou.

A diretora Daisy Dias fez um alerta: “Como o servidor pode oferecer um bom atendimento se ele mesmo está doente? Nossa preocupação com esta campanha é acolher, ouvir e conscientizar de que precisamos de ambientes de trabalho saudáveis”, afirmou.

O médico Dr. Jaime reforçou que o Sindicato cumpre um papel fundamental como suporte social para servidoras e servidores, ajudando-os a enfrentar problemas e promovendo saúde no trabalho.

Precarização do serviço público

 

Convidada pelo Sindserv, a pesquisadora da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho), Solange Regina Schaffer, falou sobre as raízes da precarização no serviço público, um dos fatores que têm levado ao adoecimento da categoria.

Ela destacou que decisões políticas e econômicas, especialmente aquelas que defendem privatizações e a desvalorização do serviço público, impactam diretamente a saúde dos trabalhadores.

“A partir da década de 1990, com a ascensão do neoliberalismo, a visão sobre o servidor público mudou. De agente estratégico na implementação de políticas públicas, passou a ser tratado como mero executor burocrático e, em alguns casos, até como vagabundo”, ressaltou.

Schaffer repudiou essa visão e alertou para os efeitos da falta de concursos públicos, que sobrecarregam trabalhadores e intensificam o controle gerencial, com impactos diretos na saúde mental e física.

“Ritmos intensos, jornadas acima de 40 horas semanais e a falta de sentido no trabalho estão entre os maiores causadores de adoecimento. Essa luta não deve ser individual, mas coletiva”, afirmou.

Ela ainda lembrou que a desvalorização salarial e a falta de apoio social contribuem para a exaustão:
“A saúde mental é difícil de quantificar. Um trabalhador adoecido não é apenas um problema individual, mas um custo para a família, para o Estado e para a sociedade”, concluiu.

Como engajar os colegas de trabalho

O psicólogo clínico da Sperare, Walme Oliveira, fez uma reflexão contundente sobre os desafios da saúde mental na sociedade e o papel dos profissionais da educação diante da sobrecarga de funções.  O especialista ressalta que "a sociedade está doente" e, que, embora existam políticas públicas importantes, elas ainda não contemplam todas as dores das pessoas.

Oliveira ressalta a importância de compreender os limites de cada profissão e evitar que professores e outros trabalhadores sejam sobrecarregados com atribuições que não lhes cabem.
“Precisamos separar bem o nosso papel: professor não é psicólogo, não é assistente social. Muitas vezes, o profissional acumula funções que não são suas, e isso gera desgaste”, afirma.

O especialista também propõe uma reflexão sobre os limites individuais diante da sobrecarga emocional. “Se você para de exercer uma função que não é sua, alguém terá que resolver. Essa é uma reflexão importante. Você não é obrigado a dar conta de tudo”, enfatiza.

No contexto do cuidado em saúde mental, ele chama a atenção para os impactos emocionais de quem trabalha com pessoas com depressão. “Temos que ter paciência. Para quem tem depressão, é muito difícil”, frisa.
 

Ações de promoção, prevenção e autoconhecimento

Perguntado como engajar os servidores, o psicólogo disse que a falta de ações de promoção, prevenção e autoconhecimento agrava a situação e dificulta o enfrentamento dos problemas relacionados à saúde mental e emocional.
“Hoje as pessoas leem um título na rede social e não se aprofundam. Precisamos prevenir e orientar, levando conhecimento”, pontua.

Ações do Sindserv e da Campanha

Flavia Chiomento, dirigente da entidade sindical, destacou que o Sindicato tem atuado em defesa da saúde mental por meio da divulgação do Manual de Combate a Todo Tipo de Assédio no Serviço Público, da criação das Comissões de Combate ao Assédio e das Comissões das categorias da Educação, além do incentivo à participação de servidores nas Comissões Internas de Prevenção de Acidentes.

A diretora Mirvane Dias, idealizadora da campanha, explicou que a campanha será desenvolvida em etapas, incluindo: aplicação de pesquisa diagnóstica junto aos servidores, aberta até 30 de setembro, para mapear a saúde mental no trabalho; a realização de rodas de conversa e a apresentação dos resultados do estudo na Tribuna Livre da Câmara Municipal.

"Os resultados da pesquisa vão orientar ações de acolhimento do Sindicato e negociações com a Prefeitura. Nosso objetivo é produzir um diagnóstico fiel dos fatores de risco e de proteção à saúde mental no serviço público municipal, a fim de embasar medidas imediatas e estruturais de melhoria nas condições de trabalho. Elaboramos um cartaz com QR Code direcionando para a pesquisa, que será anônima, que será afixado nos locais de trabalho para que vocês enviem suas respostas", concluiu a diretora.

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