Como parte das ações da Coordenação de Formação do Sindserv
Santo André, a diretora de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana
Aparecida da Silva, palestrou para a Diretoria do Sindicato, no
último dia 14, na sede da entidade.
Rosana falou da importância do letramento racial que tem a
finalidade de buscar promover o enfrentamento ao preconceito, à
desigualdade e à violência contra a população negra, no sentido de
combater expressões racistas. (confira abaixo
expressões racistas)
Rosana Silva - foto Tiago Oliver
Mirvane e Rosana - foto: Tiago Oliver
“Um sindicato que luta por justiça social e direitos humanos
além dos direitos trabalhistas precisa ser um sindicato
antirracista com diretores que sejam antirracistas e possam fazer
um trabalho de formação com sua base promovendo discussões e
reflexões sobre esses termos e expressões usados como se fossem
naturais”, explica a diretora de Formação e da Escola de Formação
Política e Sindical Paulo Freire do Sindserv Santo André, a
professora Mirvane Dias.
Rosana e Bruna - foto: Tiago Oliver
Pílulas antirracismo
A secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Silva,
divulgou a campanha da CUT “Pílulas antirracismo: que reforça luta
contra o racismo”. Ao todo são 30 pílulas e três
documentários, disponíveis no Youtube da CUT sobre diversos temas
que abordam a questão racial, material que pode e deve ser
compartilhado, não somente em novembro, o mês da Consciência Negra,
mas diariamente, o ano todo. “ A luta antirracismo é constante, por
isso, é importante ampliar a reflexão sobre como o racismo se
estrutura e se perpetua no cotidiano das pessoas desde os tempos da
escravidão até os dias de hoje”, explica a dirigente.
Luizão e Rosana - foto: Tiago OIliver
Durval, Representante Legal, e Rosana - foto: Tiago
Oliver
Carolina e Rosana - Foto: Tiago
Oliver
Confira algumas expressões racistas e seus
significados:
“Meia tigela”: Os negros
que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam
alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição
apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia
tigela”, que hoje significa algo sem valor e medíocre.
“Mulata”: Na língua espanhola, referia-se
ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento
com égua. A enorme carga pejorativa é ainda maior quando se diz
“mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher
negra como mercadoria. A palavra remete à ideia de sedução,
sensualidade.
“Cor do pecado”: Utilizada como elogio, se
associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. A ideia de
pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na
religião, como a brasileira.
“Não sou tuas negas”: A mulher negra como
“qualquer uma” ou “de todo mundo” indica a forma como a sociedade a
percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Escravas negras eram
literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para
satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros
eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente
racista, o termo é carregado de machismo.
“Denegrir”: Sinônimo de difamar, possui
na raiz o significado de “tornar negro”, como algo maldoso e
ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”.
“A coisa tá preta”: A fala racista se
reflete na associação entre “preto” e uma situação desconfortável,
desagradável, difícil, perigosa.
“Serviço de preto”: Mais uma vez a
palavra preto aparece como algo ruim. Desta vez, representa uma
tarefa malfeita, realizada de forma errada, em uma associação
racista ao trabalho que seria realizado pelo negro.
“Mercado negro, magia negra, lista negra e ovelha
negra”: Entre outras inúmeras expressões em que a
palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial,
ilegal.
“Inveja branca”: Mais uma expressão que
associa o negro ao comportamento negativo. Inveja é algo ruim, mas
se ela for branca é suavizada.
“Amanhã é dia de branco”: Essa expressão
tem muitas explicações. De acordo com estudiosos e por explicações
do senso comum, tal afirmação foi criada em alusão ao uniforme da
marinha. Outra justificativa para a declaração é feita com menção a
nota de mil cruzeiros, que possuía a estampa do Barão do Rio Branco
e, portanto, usava trajes brancos. Resumindo, dizer que o dia
posterior é "de branco" significa que é um dia de trabalho ou de
ganhar dinheiro. Mas, sabe-se que tal dito popular foi ganhando
sentidos preconceituosos, uma maneira de demonstrar a
"inferioridade dos negros".
“Criado-mudo”: O nome do móvel que
geralmente é colocado na cabeceira da cama vem de um dos papéis
desempenhados pelos escravos dentro da casa dos senhores brancos: o
de segurar as coisas para seus “donos”. Como o empregado não
poderia fazer barulho para atrapalhar os moradores, ele era
considerado mudo. Logo essa expressão se refere a esses
criados.
“Doméstica”: Domésticas eram as mulheres
negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram
consideradas domesticadas. Isso porque os negros eram vistos como
animais e por isso precisavam ser domesticados através da
tortura.
“Nasceu com um pé na cozinha”: Expressão
que faz associação com as origens. “Ter o pé na cozinha” é
literalmente ter origens negras. A mulher negra é sempre associada
aos serviços domésticos, já que as escravas podiam ficar dentro das
casas grandes na parte da cozinha, onde, inclusive, dormiam no chão
(sua presença dentro da casa grande facilitava o assédio e estupro
por parte dos senhores).
“Barriga suja”: Outro termo que faz
relação à origem é usado quando a mulher tem um filho negro. Se ela
teve um filho negro, algo impuro — como uma “barriga suja” —
explica esse fato.
“Cabelo ruim ou cabelo duro”: São falas
racistas mais usadas, principalmente na fase da infância, pelos
colegas. No entanto, elas se perpetuam até a vida adulta. Falar mal
das características dos cabelos Afro também é racismo.
“Feito nas coxas”: A origem da expressão
popular "feito nas coxas" deu-se na época da escravidão brasileira,
onde as telhas eram feitas de argila, moldadas nas coxas de
escravos.
“Samba do crioulo doido”: Título do samba que
satirizava o ensino de Historia do Brasil nas escolas do País nos
tempos da ditadura, composto por Sergio Porto (ele assinava com o
pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta). No entanto, a expressão
debochada, que significa confusão ou trapalhada, reafirma um
estereótipo e a discriminação aos negros.
“Crioulo/Negão”: Era a designação do
filho de escravizados, é um termo extremamente pejorativo e
discriminador do indivíduo negro ou afrodescendente.
“Tem caroço nesse angu”: A expressão
possui origem em um truque realizado pelos escravizados para melhor
se alimentarem. Quando o prato era composto de angu de fubá, o que
acontecia com frequência. A escravizada que lhes servia, por vezes,
conseguia esconder um pedaço de carne ou alguns torresmos embaixo
do angu.
“Nhaca”: Desde o português do Brasil
Colônia, vem sendo usada para referir-se ao mal cheiro, forte odor,
no entanto Inhaca é uma Ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem
até hoje os povos Nhacas, um povo Ban.
“Disputar a nega”: Possui sua origem não
só na escravização, como também na misoginia e no estupro. Quando
os “senhores” jogavam algum esporte ou jogo, o prêmio era uma
escravizada negra.
“Preto de alma branca”: Tentativa de
elogiar uma pessoa preta fazendo referência à dignidade dela como
algo pertencente apenas às pessoas brancas.
“Macumbeiro/Galinha de macumba/ Chuta que é
macumba”: Expressão que discrimina as(os) praticantes
de religiões de matriz africana.
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