Santo André, * *

Formação do Sindserv Santo André debate letramento racial para combater o racismo
A diretora de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida da Silva, palestrou para a Diretoria do Sindicato.

Por: Viviane Barbosa, da Redação do Sindserv Santo André
Publicação: 16/11/2023

Imagem de Formação do Sindserv Santo André debate letramento racial para combater o racismo

Fotos: Tiago Oliver

Como parte das ações da Coordenação de Formação do Sindserv Santo André, a diretora de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida da Silva, palestrou para a Diretoria do Sindicato, no último dia 14, na sede da entidade.

Rosana falou da importância do letramento racial que tem a finalidade de buscar promover o enfrentamento ao preconceito, à desigualdade e à violência contra a população negra, no sentido de combater expressões racistas. (confira abaixo expressões racistas)


Rosana Silva - foto Tiago Oliver

 


Mirvane e Rosana - foto: Tiago Oliver

 

“Um sindicato que luta por justiça social e direitos humanos além dos direitos trabalhistas precisa ser um sindicato antirracista com diretores que sejam antirracistas e possam fazer um trabalho de formação com sua base promovendo discussões e reflexões sobre esses termos e expressões usados como se fossem naturais”, explica a diretora de Formação e da Escola de Formação Política e Sindical Paulo Freire do Sindserv Santo André, a professora Mirvane Dias. 


Rosana e Bruna - foto: Tiago Oliver
 

Pílulas antirracismo
A  secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Silva, divulgou a campanha da CUT “Pílulas antirracismo: que reforça luta contra o racismo”. Ao todo são 30 pílulas e três documentários, disponíveis no Youtube da CUT sobre diversos temas que abordam a questão racial, material que pode e deve ser compartilhado, não somente em novembro, o mês da Consciência Negra, mas diariamente, o ano todo. “ A luta antirracismo é constante, por isso, é importante ampliar a reflexão sobre como o racismo se estrutura e se perpetua no cotidiano das pessoas desde os tempos da escravidão até os dias de hoje”, explica a dirigente.



Luizão e Rosana - foto: Tiago OIliver

 

 



Durval, Representante Legal, e Rosana - foto: Tiago Oliver

 


Carolina e Rosana - Foto: Tiago Oliver
 

Confira algumas expressões racistas e seus significados:

  • Meia tigela”: Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje significa algo sem valor e medíocre.
  • “Mulata”: Na língua espanhola, referia-se ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com égua. A enorme carga pejorativa é ainda maior quando se diz “mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. A palavra remete à ideia de sedução, sensualidade.
  • “Cor do pecado”: Utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira.
  • “Não sou tuas negas”: A mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo” indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo.
  • “Denegrir”: Sinônimo de difamar, possui na raiz o significado de “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”.
  • “A coisa tá preta”: A fala racista se reflete na associação entre “preto” e uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.
  • “Serviço de preto”: Mais uma vez a palavra preto aparece como algo ruim. Desta vez, representa uma tarefa malfeita, realizada de forma errada, em uma associação racista ao trabalho que seria realizado pelo negro.
  • “Mercado negro, magia negra, lista negra e ovelha negra”: Entre outras inúmeras expressões em que a palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial, ilegal.
  • “Inveja branca”: Mais uma expressão que associa o negro ao comportamento negativo. Inveja é algo ruim, mas se ela for branca é suavizada.
  • “Amanhã é dia de branco”: Essa expressão tem muitas explicações. De acordo com estudiosos e por explicações do senso comum, tal afirmação foi criada em alusão ao uniforme da marinha. Outra justificativa para a declaração é feita com menção a nota de mil cruzeiros, que possuía a estampa do Barão do Rio Branco e, portanto, usava trajes brancos. Resumindo, dizer que o dia posterior é "de branco" significa que é um dia de trabalho ou de ganhar dinheiro. Mas, sabe-se que tal dito popular foi ganhando sentidos preconceituosos, uma maneira de demonstrar a "inferioridade dos negros".
  • “Criado-mudo”: O nome do móvel que geralmente é colocado na cabeceira da cama vem de um dos papéis desempenhados pelos escravos dentro da casa dos senhores brancos: o de segurar as coisas para seus “donos”. Como o empregado não poderia fazer barulho para atrapalhar os moradores, ele era considerado mudo. Logo essa expressão se refere a esses criados.
  • “Doméstica”: Domésticas eram as mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas. Isso porque os negros eram vistos como animais e por isso precisavam ser domesticados através da tortura.
  • “Nasceu com um pé na cozinha”: Expressão que faz associação com as origens. “Ter o pé na cozinha” é literalmente ter origens negras. A mulher negra é sempre associada aos serviços domésticos, já que as escravas podiam ficar dentro das casas grandes na parte da cozinha, onde, inclusive, dormiam no chão (sua presença dentro da casa grande facilitava o assédio e estupro por parte dos senhores).
  • “Barriga suja”: Outro termo que faz relação à origem é usado quando a mulher tem um filho negro. Se ela teve um filho negro, algo impuro — como uma “barriga suja” — explica esse fato.
  • “Cabelo ruim ou cabelo duro”: São falas racistas mais usadas, principalmente na fase da infância, pelos colegas. No entanto, elas se perpetuam até a vida adulta. Falar mal das características dos cabelos Afro também é racismo.
  • “Feito nas coxas”: A origem da expressão popular "feito nas coxas" deu-se na época da escravidão brasileira, onde as telhas eram feitas de argila, moldadas nas coxas de escravos.
  • “Samba do crioulo doido”: Título do samba que satirizava o ensino de Historia do Brasil nas escolas do País nos tempos da ditadura, composto por Sergio Porto (ele assinava com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta). No entanto, a expressão debochada, que significa confusão ou trapalhada, reafirma um estereótipo e a discriminação aos negros. 
  • “Crioulo/Negão”: Era a designação do filho de escravizados, é um termo extremamente pejorativo e discriminador do indivíduo negro ou afrodescendente.
  • “Tem caroço nesse angu”: A expressão possui origem em um truque realizado pelos escravizados para melhor se alimentarem. Quando o prato era composto de angu de fubá, o que acontecia com frequência. A escravizada que lhes servia, por vezes, conseguia esconder um pedaço de carne ou alguns torresmos embaixo do angu.
  • “Nhaca”: Desde o português do Brasil Colônia, vem sendo usada para referir-se ao mal cheiro, forte odor, no entanto Inhaca é uma Ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem até hoje os povos Nhacas, um povo Ban.
  • “Disputar a nega”: Possui sua origem não só na escravização, como também na misoginia e no estupro. Quando os “senhores” jogavam algum esporte ou jogo, o prêmio era uma escravizada negra.
  • “Preto de alma branca”: Tentativa de elogiar uma pessoa preta fazendo referência à dignidade dela como algo pertencente apenas às pessoas brancas.
  • “Macumbeiro/Galinha de macumba/ Chuta que é macumba”: Expressão que discrimina as(os) praticantes de religiões de matriz africana.

    Com informações da Secretaria de Estado de Direitos Humanos



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